-O que aconteceu? – perguntei para os polícias que vedavam a
casa, e afastavam a multidão.
-Não podemos falar nada, agora se afastem! – os policiais
faziam a maior força para manter tanta gente para trás da casa.
-Recebemos uma carta mandando vir a este local, uma ameaça.
Ela está envolvida no caso – Adam era firme, mesmo desafiando a lei – É mais do
que o suficiente para entrarmos aí!
O policial liberou nossa passagem, nem acreditei quando ele
permitiu que passássemos. Corri até a entrada da casa, estava abandonada, o
detetive que cuidava do meu caso estava lá, e nos interceptou na porta.
-Porque toda vez que acontece alguma
coisa nessa cidade, vocês estão metidos? – ele colocou a mão na testa como se
não acreditasse.
-Eu também queria saber! – impliquei.
-O que ta rolando? – perguntou Adam,
pulando as apresentações.
-Assassinato – ele passou a mão na
testa para se livrar do suor, lá realmente estava quente -E o que você tem a
ver com isso?
Meu coração quase parou
assassinato?Sério?
-Quem morreu? – Adam perguntou, ele
sabia que eu não estava mais em condições de falar nada.
-Um casal, ainda não identificamos.
Por quê?
Quando ele disse um casal, tive a reação mais idiota da minha
vida, procurar os corpos.
Andei pelo primeiro andar todo, o
detetive corria atrás de mim, e logo vinha Adam.Mas eu estava rápida, assim
como meu desespero.Subia a escada, tão rápido que quase cai no segundo andar,
me arrependi seriamente de ter tido esse reação idiota.
-Não! – gritei caindo no chão.
Adam veio até mim, mas ele não estava
aterrorizado como eu, o odiei por ser tão frio.Eu estava no chão e
chorando.Logo na minha frente os corpos dos meus pais, sem vida e cheios de
sangue.
-Conhece? – o detetive perguntou.
Me levantei exaltada, como ele me
fazia uma pergunta dessas!
-Claro que conheço!É claro! – gritei-
São meus pais!
Saí correndo da casa, nem me lembro
ao certo como driblei tantas pessoas e policiais na entrada. Eu não tinha para
onde ir, não tinha casa, não tinha família, não tinha ninguém.
-E o Bem? – perguntei finalmente me
tocando.
-Ele não estava lá – falou Adam, se
sentando do meu lado na areia da praia – O detetive está investigando,
entreguei a carta pra ele.
-Como soube que era um jogo, Adam?Como
soube que eu não podia desobedecer às cartas?
-Eu chutei – ele olhou para o mar, de
algum modo ele sabia.
-Preciso achar meu irmão... –
cochichei.
-A melhor coisa que você tem a fazer
é voltar para o hotel, descansar. Sua amiga pode estar preocupada com você.
-Acha mesmo que é com isso estou me
importando?Não quero dormir, não quero voltar para o hotel. Eu quero meu
quarto, minha casa, meus pais, meu irmão! – choraminguei, sabia que Adam não me
entenderia, o emocional dele era igual a de uma porta.
-Emma, precisa descansar...
-Não! – gritei – Não me importo
comigo, só quero minha vida de volta!
-Mas eu me importo, não quero te ver
machucada, ou morta – ele falou.
-É o único que se importa! – disse o abraçando.
-Sabe que é mentira não sabe?Todos se
importam com você.
-Todos quem?Não tem mais ninguém,
todos se foram – comecei a chorar.
Pode me chamar de manteiga derretida
e o que mais quiser, mas eu não estava sendo uma boba sentimental. Eu não tinha
mais ninguém, meus pais se foram, Lucy não queria mais saber da minha existência,
Roy se foi, e meu irmão... Onde ele estava?
Fui para o hotel, mas com isso tudo
só cheguei lá pela manha. Jane me abordou no quarto, e me fez um milhão de
perguntas, eu não disse a ela sobre os meus pais ou qualquer coisa do tipo, não
queria lembrar da cena.Meus pais caídos no chão, cheios de sangue.Tudo que eu
queria fazer era esquecer.Infelizmente eu não conseguia.
De noite estávamos jantando, nem mesmo aquele banquete me fez
ter apetite, tomei apenas um copo de água e mesmo assim me senti enjoada, tudo
me lembrava sangue, morte, dor.
-Valentina? – perguntou Jane – Esta tudo bem?
-Está, porque não estaria – dei os ombros.
-Está seria, e um pouco pra baixo.
-Sempre estou assim.
-Não, não é – ela tornou a comer.
Na saída do jantar, ficamos na área da piscina estava tendo
musica ao vivo, estava um clima bem gostoso, para quem não tinha achado os pais
assinados a menos de um dia.
-Val.A festa que eu lhe falei, lembra?
-Diga – disse um pouco enjoada.
-Vai ser na segunda.
-Achei que fosse daqui a uma semana e não quatro dias.
-Eu sei que lhe falei que era daqui a uma semana, mas o meu
aluno mudou a data.Mas gostaria que você fosse mesmo assim.
-Qual é o idiota que dá uma festa na segunda? – resmunguei.
-É feriado, Val, não conta – ela riu.
-Tudo bem – me rendi – Eu prometi, não foi?
-Sério?
-Claro.
Me levantei e fui para o quarto, Jane ficou assistindo aos músicos.Me
joguei na cama, e mesmo com tudo aquilo acontecendo, dormi como uma pedra.
Capitulo dezoito
-Qual você prefere? O roxo ou o vermelho – Jane rodopiou com
o vestido vermelho de grossas alças pelo quarto.
-O roxo.O vermelho é muito...
-Sei o que quer dizer – ela foi até a mala dela e retirou vários
pares de sapato.
-Quantos...
-Sei, mas não vivo sem eles. Alias qual sapato devo ir, é
ainda mais difícil que o vestido – ela estava mesmo empolgada com essa tal festa
- E você o que vai usar?
-Sei lá, talvez o vestido que o Jake me deu.
-De novo? – resmungou Jane.
-É por quê?
-Nem pensar menina, você não vai usar roupa repetida, anda
abre aquela mala ali minha, deve ter algo que caiba em você.
Na verdade não tinha nada que eu gostasse, imaginava todas
aquelas roupas bonitas na Jane, mas não em mim.Mega decotes e babados
infinitos, não que fosse do meu estilo.
-Que tal esse branco? – perguntou Jane.
-Não vou me casar! – era um lindo vestido branco, mas ia até
o pé, não era rodado nem nada, mas era de camadas, perfeito para uma noiva e
não uma festinha da faculdade.
-Podemos cortar – disse Jane pegando uma tesoura e uma
maquina de costura de mão.
-Sempre anda com isso? – brinquei.
-Sempre preciso – ela riu.
Coloquei o vestido, ele já era grande na Jane, em mim ficou enorme.
Cortamos bastante ele, até ele ficar na altura do joelho, ficou bem justinho,
depois de umas horas em pé com aquela maquininha me furando. Apesar de tudo
valeu a pena, o vestido ficou lindo. Mas se estivesse na Jane, ficaria muito
melhor.
Jane e eu fomos de carro, até o fim da rua. Para não machucar
os nossos pés devido ao salto. A casa era normal, mas estava cheia. Pude ouvir
o barulho e a musica do começo da rua, ainda mais quando não se tem nada em
volta para abafar o som.
Entramos, tinha muita gente mesmo. Fiquei pensando, se Jane
não fosse tão bonita não teria sido convidada, era uma típica festa de
faculdade, e professores não são convidados, ainda mais quando têm bebidas alcoólicas,
drogas e outras coisas mais...
-Val! – gritou Jane, vou procurar meu namorado, ele mandou
uma mensagem acabou de chegar. Fica na varanda, já vou pra lá. Tudo bem? – eu não
queria andar naquele lugar sozinha, mas não tive escolha.
-Ta – fui para a varanda. Acho que era o único lugar vazio da
festa, a descoberta me animou. Tinha um pequeno píer saindo da varanda, era lindo.
Fiquei o admirando.
Ouviu um barulho, certamente era Jane, pude ouvir a voz dela.
Me virei, estava ela com seu namorado, mas eu já o conhecia.
-Val eu quero te apresentar meu namorado...
-Adam – falei com a voz esganiçada.
-Emma, não é o que pensa – como não era o que eu pensava,
claro que era!Queria pular no pescoço de Adam naquela hora.
-Já se conhecem? – Jane perguntou docemente.
-Sim, Emma é...
-Espera aí... – disse Jane, pude ver sua expressão mudar – Ela
é a tal Emma, a sua amiginha por qual você faz tudo? – ela estava mesmo brava.
-Jane... não é bem assim – disse Adam.
-Achei que se chamasse Valentina? – insinuou Jane bem raivosa
– Mentiu para mim.
-Não menti – me defendi – Me chamo Valentina.Emma Valentina
Fox.
-Mesmo assim mentiu.Sabia que eu estava com problemas no
relacionamento e mesmo assim não disse nada.
-Eu não sabia.... – me exaltei – Não sabia que o Adam era seu
namorado.
-Emma... – disse Adam.
-Cala a boca.Mentiu pra mim.
-Não menti.Nunca disse que não tinha namorada – me senti
humilhada quando Adam disse isso.
-Por quê? – gritou Jane – O que te interessa ele ter ou não
namorada?São só amigos não são? – Jane estava exaltada, todos nós na verdade.
-Não – falei.
-Não? – gritou Jane furiosa.
-Nunca fomos – falei olhando para Adam, ele continuava ali
parado, sem expressar emoção alguma, como sempre.
-Adam - disse Jane,
esperando que ele dissesse alguma coisa, mas ele não disse nada.
-Pelo menos pra mim – falei, quebrando o silencio – Nunca foi.
Queria muito sair dali, pensei em pular pelo pear e me deixar
afundar, mas sabia que aquilo acabaria em morte, afinal tenho pânico de água.
Sai da festa correndo, voltei para o hotel ele não era longe.Entrei
no quarto e arrumei minhas coisas, sabia que não teria a carona e muito menos a
cara de pau de olhar para Jane outra vez.
Na saída do quarto dei de cara com Jake.
-Val?A onde vai?– ele havia visto minhas malas.
-Embora – respirei fundo –Preciso ir.
-Por quê? -perguntou
Jake.
-Porque sim – disse tomando a frente, o que ele tinha na
cabeça?
-Não pode ir – Jake havia mudado totalmente de personalidade,
ele estava sério e amedrontador.
-Porque não – cheguei a rir.
-Não pode! – ele gritou e esmurrou a parede, gritei.
-O que quer?Está louco – corri para o outro lado do corredor,
nem me preocupei com a mala. Meus documentos estavam na minha mochila de costas
mesmo, eu ficaria bem sem todo aquele peso.
-Não pode ir! – ele gritou mais uma vez – São as regras do
jogo.
Aquelas palavras me congelaram, regras do jogo, ele estava envolvido.
Então quem mais?Quem mais estava contra mim, corri o mais rápido que pude. Não
me interessava o “jogo” ou o conselho ou essa brincadeira idiota de sangue
manchado, só queria ir para casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário