Era domingo, papai e Bem saíram para pescar, pude ver pela
janela.Mamãe ficou em casa, sei que ela estava sentada em frente minha porta,
pois podia ver os pés da cadeira por de baixo dela.
-Emma ... –disse ela – Não pode fica aí para sempre, precisa
sair.
-Não vou sair, nunca – gritei.
-Então me deixe entrar – abri a porta, estava realmente com
saudades da minha família.
Minha mãe
entrou e me abraçou de imediato, ela se sentou na minha cama de frente para
mim.
-O policial ligou do departamento de
crimes e homicídios. Ele disse que vai ter que passar por um julgamento, Emma.
-julgamento? – eu não podia
acreditar no que ela tinha dito.
-você foi a ultima pessoa a estar
com a vitima, esteve na cenado crime e se recusa a terminar de dizer o que
ouve...
-Me RECUSO? – gritei – Francamente
Mãe, eu não me recuso, eu não lembro!Não lembro!
-Desculpe filha, não quis dizer nada
de mal.
-Claro que não – falei com sarcasmo.
-Eles marcaram uma audiência com o
juiz. Não se preocupe Emma, daqui uns dias o juiz vai te declarar inocente e
tudo vai acabar Emma.
Ela se levantou e saiu do meu quarto
bem devagar, eu bati a porta com tudo. Estava com muita raiva, um julgamento?E
ninguém havia me perguntado, nem dito nada sobre isso.
Olhei pela janela, me surpreendi ao
ver Lucy passar pela rua.Fiquei muito abalada e percebi que eu sentia muitas
saudades dela.De um dia para outro minha melhor amiga me odiava, e tudo por
culpa de algo que eu nem sei se realmente fiz.
Capitulo Quatorze
Faltava um dia para o julgamento, já
fazia um mês e quinze dias desde a morte de Roy, e que eu havia me tornado
prisioneira da minha própria casa. A única pessoa da minha família que eu sei
que acreditava na minha inocênciaera meu irmão, percebi o quanto de chances eu
tinha de ser acusada, e comecei a me preocupar MUITO!
Era dia de festival de musica no
centro da cidade, aproveitei para sair de casa um pouco. Com certeza todos
estariam no festival, e eu poderia andar sem ser humilhada ou receber uma chuva
de frutas podres.
Avisei a Bem que ia sair, levei a
chave de casa. Fui andando pela rua, mas tomei o cuidado de me manter longe da
casa dos avôs de Roy. Fui caminhar na praia, andei um pouco e logo me sentei na
areia em frente à água, onde eu estive com Roy antes de... Ele morrer.
Não
conseguia tirar da minha cabeça as palavras “Tome cuidado sangue manchado, seu
fim está próximo”. Queria muito saber o que sangue manchado significava, e a
outra parte eu queria simplesmente esquecer. Peguei meu celular, acessei o
Google, se eu tinha achado algo sobre a ordem, poderia achar sobre isso também.
Na verdade
só apareceram paginas de ficção e relações com vampiros, o que era
completamente idiota. Entrei em alguns sites que me pareceram mais parecidos
com o que eu buscava, mais a única coisa que eu pude ver que constavam em todas
as paginas era “demônio”. O que eles queriam dizer me chamando de demônio?
A água do
mar tocou meus sapatos, o que me fez acordar das minhas idéias absurdas. Me
levantei.Já que estava na praia pensei em ir a casa de Adam, ele tinha me
apoiado quando até Lucy me apontou o dedo e me chamou de assassina, eu não
poderia esquecer dele.
Olhei a porta da frente, pelas partes de vidro pude ver
muitas pessoas dentro da casa, todas vestiam roupas longas e chiques, pude ver
garçons e muitos drinks. Dei a volta e entrei pela porta dos fundos que dava na
cozinha, afinal eu não estava vestida para uma festa e nem havia sido
convidada.
Chegando na cozinha, ela estava abarrotada de salgados
chiques, que eu não ousei pegar, os ricos tem um paladar muito estranho.Sentei
em uma das bancadas e fiquei esperando, até passou pela minha cabeça tomar uma
garrafa de vinho que tinha ali, mas logo voltei a mim, eu não sou desse
tipo.Adam entrou na cozinha depois de uns dez minutos.
-O que faz aqui? – perguntou um pouco assustado.
-Vim te ver.
-Que honra – ele brincou.
-O que ta rolando?
-Festa de negócios, a maischata de todas as festas.Negócios
para cá, negócios para lá.Fofoca de quem tem o vestido mais caro, esse tipo de
coisa – ele largou o copo que segurava na pia, e se sentou na bancada do um
lado – Como está?
-Mal, eu acho.
-Soube que vai ter um julgamento – ele estava sério.
-Amanha, mas acho que não vou me sair bem.
-Se precisar de um advogado...
-Não, não preciso.
-As coisas vão da certo, não se preocupe.
-Queria que todos os dias fossem assim, calmos, quietos...
-E com festas chatas – ele riu.
-É, e com festas chatas – também ri.
-Quer uma coisinha dessas? – apontou para a bandeja.
-Não, vou saber lá do que isso tem gosto.
-É talvez não seja uma boa.
Ficamos em silencio,
mas tudo estava calmo e bom, então não me importei.
-É engraçado... – disse Adam.
-O que?
-Gosto de ficar perto de você, mesmo que não diga nada – me
senti muito envergonhada quando ele disse isso, mas eu também me sentia assim.
-Seu pai não vai brigar de você ficar na cozinha, ele pode
achar que você esta comendo os salgadinhos.
-Ele nem nota que eu sumi, vai demorar umas horinhas ainda
para ele lembrar que ele tem um filho.
-Queria que meus pais fossem um pouco assim.
-Não queria não – ele riu.
-Me faz um favor? – disse depois de mais um tempo em
silencio.
-Sempre me pedindo favores, Emma, isso é deselegante.
-Vai ao meu julgamento amanha, não quero fazer isso sozinha.
-Claro que vou.Ou achou que eu ia perder a chance de rir da
família Jones, eu disse que nunca fui com a cara deles, nem do Roy nem da
Priscila...
-Que maldade Adam.
-Só estou sendo realista.
-Eu sei.
Não sei por que, mas naquele momento eu me sentia muito
atraída por Adam. Me sentia mal por estar assim, até porque fazia pouco tempo
que Roy tinha morrido, era horrível eu pensar em outra pessoa, mas não podia
evitar.Me aproximei de Adam, estávamos muito perto, podia sentir meu coração
palpitar, mas estava mais tranqüila do que estive desde o “incidente” , podia
sentir sua respiração, calma e quente.Mas não nos beijamos.
Adam se levantou da bancada, o que me desarmou completamente.
-É melhor eu voltar, meu pai pode precisar de mim.
Ele simplesmente saiu o que me deixou constrangida, e muito
triste. Mas ele devia pensar da mesma forma que eu, fazia muito pouco
tempodesde a morte de Roy, eu seria má por me envolver com outra pessoa em tão
pouco tempo.
Em casa tudo estava muito quieto, o clima muito pesado como
sempre. Eu já estava falando com meus pais, mais só coisas do tipo, o almoço
está pronto?Quem tocou a capainha? Alguém vai ao super mercado hoje?
Estava no meu quarto, sentada na cadeira ouvindo musica.
Quando papai entrou, tirei os fones.
-Emma, amanha no julgamento...
-Não quero falar sobre isso.
-Não pode fugir não disso – ele fez uma pausa e tornou a
falar – Tem que contar tudo para o juiz, dizer tudo, e mesmo que ninguém
acredite em você, tem que dizer o que você acredita.
-Sei disso.
-O caso vai a júri popular. Boa sorte filha – ele saiu do
quarto.
Receber uma bomba dessa não é para qualquer um, meu caso
irisa júri popular, significava que as pessoas votariam na minha inocência,
infelizmente ninguém da minha cidade acreditava em mim. Fiquei diante do
espelho treinando o que falaria, mas na verdade tudo o que eu realmente
conseguia dizer era, eu não sei o que realmente aconteceu.
Pela manha o clima pesado da minha casa, ficou ainda pior.
Estava muito fúnebre, como se todos esperassem que o juiz dissesse CULPADO.
Entramos no carro, papai colocou uma musica religiosa, todos nós sabíamos que
só um milagre poderia me salvar, mas a essa altura nem sabia se queria ser
salva.
Chegando ao tribunal , me senti muito feliz por não ter uma
multidão cercando o local.Então fomos direto ao julgamento.
Demorou um pouco até o juiz chegar, ele se sentou em sua
cadeira e disse algumas coisas.Na verdade não lembro de muita coisa durante o
tribunal, estava totalmente érea.Procurei Adam pela platéia, não o vi, o que me
deixou mais preocupada ainda.
O juiz falou algo que me chamou a atenção, agora era hora.
Senti as minhas pernas tremerem, agora era a ordem final, estava realmente
muito nervosa. Mas fui tomada por uma paz imensa e uma onda de choro quando o
juiz me declarou inocente, no final eles não tinham provas contra mim, e eu
estar no local não era nem informação suficiente para me mandar ao
tribunal.Acho que alguns policiais de quinta vão receber um puxão de orelha.
Papai disse que passaríamos em uma pizzaria para comemorar,
mas eu ainda não me sentia pronta para poder voltar a ir á lugares públicos,
mas ele me obrigou a ir mesmo assim, quando chegamos senti muitos olhares
voltados para mim.
Depois da pizzaria papai e Bem foram para casa, minha mãe
pediu para que eu ficasse no carro, ela tinha algo a me dizer.
-Emma, sei é difícil passar pelo que você passou, então eu
pensei.Vamos até um loja de artigos de beleza, compramos tudo que você quiser,
depois vamos a uma loja de roupas e compramos mais ainda – ela estava muito
empolgada – e você muda totalmente seu visual, pinta o cabelo, usa roupas
diferentes se quiser muda até de nome, aí ninguém vai ter o direito de te
acusar de nada.
-Está falando sério?
-Claro.
-Obrigada mãe – nos abraçamos.
Até que a mamãe tinha tido uma ótima idéia, seria realmente
bom me distrair, mudar meu visual poderia afastar todos os comentários que eu
recebia quando passava na rua.
Fomos até a Beleza e Cia, a maior loja dês cosméticos da
cidade, fomos a seção de tintas, agora a duvida que cor e pintaria meu cabelo?
-Gosto de loiro – disse mamãe.
-Nem pensar.
-Castanho ia ficar bonito, ia realçar seus olho azuis.
-Não, ia ficar muito igual. Que tal vermelho?
-ÍA ficar lindo, mas vai ter que pintar sempre.
-Que tal esse loiro aqui? – mamãe pegou uma embalem, era um
loiro platino, resumindo era “branco”, mas admito que adorei a ideia. Mas
pintar o cabelo inteiro de branco não ia me deixar mais feliz, só mais
preocupada com se o meu cabelo estava com a raiz preta de novo, e essas coisa.
Então resolvi pintar só as pontas, mas antes eu tinha que corta-lo.
Minha mãe insistiu para que eu cortasse meu cabelo em um
salão profissional, e essas coisas de mães. Mas eu detestava ir a salão de
beleza, não era esse tipo de consumista.
Fomos para casa, mesmo
que minha mãe tivesse me empurrado para cerca de umas trinta lojas de roupas,
mas só achei umas peças que combinassem comigo.
Chegando à minha casa, fui para o banheiro, eu não precisava
de salão para brincar de cortar o cabelo. Primeiro cortei, meu cabelo estava na
cintura, primeiro tive receio de cortar, tinha demorado tanto tempo para
crescer, mas fui em frente. Cortei duas mãos abaixo dos ombros, e passei a
tinta nas pontas do cabelo. Andei pela casa com a tinta no cabelo, minha mãe
quase morreu, quando viu o quanto eu tinha cortado meu cabelo, mas afinal a culpa
era dela, ela tinha dado a ideia de mudar meu visual.
Acho que fiquei uns minutos a mais com a tinta no cabelo, mas
em fim ficou branco do mesmo jeito que eu queria. Fui até a cozinha, minha mãe
estava fazendo o jantar, então começamos a conversar sobre a “escola”.
-Eu acho que você deveria mudar de escola – disse minha mãe
enquanto cortava legumes para a sopa.
-Não quero mudar de escola – me sentei na cadeira.
-Não acho uma boa ideia, aquelas pessoas te trataram muito
mal, não devia dar outra chance para eles.
-Não quero mudar de escola, recomeçar o processo escolar é
uma bosta!
-Filha, vai ser melhor para você.
-Faça o que quiser – não estava a fim de ir a qualquer
escola, mas o que eu podia fazer.
Fui para meu quarto, e mais uma vez me irritei coma droga da
areia que apareceu no meu quarto.Deixei ela ali mesmo, estava muito irritada
para me importar com isso. Só conseguia pensar em qual motivo Adam teria para
não ir ao julgamento, ele tinha prometido.
Eu voltaria para a escola depois de tanto tempo em casa, já
havia até desacostumado a acordar cedo, mas nada que uns dias de aula não
resolvessem. Escola nova, minha mãe achava que isso ia mudar o fato de todos
meus amigos terem me chamado de assassina, mas a essa altura do campeonato
sinto que se visse eles poderia aí sim, acabar cometendo um crime.
A nova escola,era
basicamente igual a outra, cheia de pessoas chatas, aulas chatas e pessoas que
se acham mais do que são. Não falei com ninguém no primeiro dia, e nem no
segundo. Na verdade ultimamente, com tantas mudanças na minha vida, talvez eu
tenha ficado meio “cheia” de amigos. As aulas do dia, biologia, química,
matemática... Resumindo, nada que tenha me feito gostar da escola.
-Bom dia, sou Samantha Evans – disse uma menina alta de
cabelos castanhos, ela usava jeans e blusa verde, do tipo “salve o planeta”.
-Oi – disse bem curta.
-Se chama Emma, não é ?
-Me chama de Val.
-De Valeria? – ela estava mesmo querendo puxar assunto.
-Não. Prazer – disse logo, para que parasse de me importunar.
-Olha, nossa turma vai comemorar o inicio das férias de
verão, que começam semana que vem. Vamos planejar a viagem da turma, porque não
vem com a gente?
-Acho que ainda não faço parte da “turma” – me sentei em umas
das cadeiras do refeitório que estava quase vazio.
-Claro que faz, todo mundo faz. E além do mas, é bem legal,
você vai gostar.
-Onde vai ser? – queria acabar logo com aquela enrolação.
-Na minha casa. É aqui na rua da escola, vamos decidir para
onde vamos, seria bom que você fosse.
-Eu vou pensar – me levantei e saí, mas antes ela me entregou
o endereço escrito em um papelzinho cor de rosa.
continua...
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