quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

História parte 1




 Capitulo um
    

Estava frio,assim como todas as manhas na minha cidade,mas hoje não era um dia comum, não para mim pelo menos, era véspera de nada menos nada mais do que do meu aniversario, eu Emma Fox iria fazer 16 anos, e minha vida ia mudar drasticamente.Tudo bem eu confesso, isso é um exagero, o máximo que poderia mudar na minha monótona e pacata vida por causa de um simples aniversário seria eu crescer uns dois centímetros.

Acordei entusiasmada com os planejamentos do meu aniversario, fui para sala e me surpreendi ao olhar o relógio e descobrir que eram duas da tarde, sempre adorei organizar minhas festas, mesmo que muitas das vezes tivesse apenas quatro convidados, contando com meu pai, mãe e irmão mais novo, só sobrando vaga para minha melhor amiga Lucy, mas em geral eu levava jeito. Mamãe estava procurando uma loja na cidade que vendesse tendas, papai estava na oficina-onde ele trabalhava como mecânico-e meu irmãozinho devia estar quebrando alguma coisa em algum lugar.
Joguei-me no sofá e liguei a televisão, e em menos de cinco minutos me peguei presa a um tédio devastador. Estava passando o noticiário, eu sempre gostei de jornais e noticiários, os achava bem informativos e interessantes, mas na véspera do meu aniversário eu queria me divertir para variar. Aumentei o volume da TV, queria ouvir uma matéria sobre um assassinato na minha cidade, me senti anestesiada de curiosidade e medo.
-Nessa manha o corpo de um estudante da escola local foi encontrado, após seis dias de busca pelo garoto de quatorze anos que desapareceu quando ia para a escola. O corpo não aparentava nenhuma marca e a causa da morte do adolescente ainda é desconhecida – falou a repórter direto do local onde foi achado o corpo.
-Que ótima noticia – disse sarcasticamente para mim mesma, desliguei a TV e me levantei do sofá.
A campainha tocou, fazendo-me modificar minha rota dá cozinha para a entrada. Abri a porta e me deparei com Lucy.
-Lucy!O que faz aqui? – perguntei a puxando para dentro na mesma hora.
-E desde quando eu tenho que ter motivo para te ver? – disse jogando a bolsa no sofá.
Lucy era em geral a melhor companhia possível, garota certinha, inteligente, educada a única coisa que atrapalhava era sua timidez. Lucy era uma menina alta, o que me fazia eu me sentir uma nanica perto dela, era morena e tinha cabelos loiros e enormes olhos pretos.
-E então quais as novidades? – perguntei entrando na cozinha.
-Novidades?Nenhuma, minhas férias são sempre chatas – ela riu e me seguiu até a cozinha.
-Quer café? – ela fez que não com a cabeça, engoli todo o café da xícara em um gole para me aquecer.
-Como anda os preparativos para a festa, seu pai me disse que vai ser lá na praia do norte.
-Vai sim, eu estou doida pra que chegue logo amanha.
-É melhor levar a tenda, eu vi no noticiário que vai chover.
-To sabendo, mamãe disse que ia comprar uma nova e maior.
-E então, não está nenhum pouco curiosa para saber o que eu vou te dar não?
-Não faz isso comigo, vai me deixar curiosa.
-É eu sei – ela riu toda maliciosa.
-OI meninas – disse papai entrando na cozinha com a blusa toda suja de graxa.
-Oi pai – acenei com a mão.
-Oi tio Thomas – Lucy era praticamente da família.
-Emma depois você tem que ir lá na mercearia comprar mais massa, sua mãe vai fazer um bolo gigante, e depois que comermos a nossa parte vamos distribuir o resto para os moradores de rua.
Mamãe não tinha um emprego fixo, mas se dedicava noventa por cento a moradores de rua, crianças carentes e animais abandonados. Nossa renda de vida não era a mais alta, mas podíamos viver normalmente.
-Vou trocar de roupa e já vou – eu e Lucy fomos até o meu quarto, que era basicamente um quarto comum, nada de mais, uma cama de madeira branca, um guarda roupa também de madeira e uma janela com uma cortina velha (motivo de muitas brigas aqui na minha casa, todos queriam que eu tirasse aquela cortina, mas eu gosto dela). Abri meu armário, peguei uma calça jeans, uma blusa de manga comprida com dois botões pequenos na frente de cor azul marinho.
-Está de bicicleta? – perguntei a Lucy.
-Sim, ou achou que eu vim andando? – Lucy morava longe da minha casa.
-Não achei – eu ri.
Fomos até a garagem, que estava entulhada de coisas velhas, e um carro enferrujado com peças expostas, papai estava o concertando há uns dias atrás, mas pelo visto havia desistido. Tropecei em um saco d lixo enquanto pegava minha bicicleta vermelha e velha.
-Droga, quem deixou isso aqui? – disse com raiva chutando o saco de lixo, em quanto Lucy ria de mim.
            -Saímos da garagem com as bicicletas, subimos nelas e seguimos até ao centro, desviamos de poucos carros para chegar lá, afinal morávamos em uma pequena cidade. Fomos até a mercearia comprar a massa, estacionamos nossas bicicletas de qualquer jeito na calçada – ninguém iria querer aquelas tralhas velhas, pelo menos a minha, e entramos na mercearia.
            -Bom dia – disse o velho que trabalhava lá, um senhor que era alucinado pela idéia de aliem invadindo nossa cidade no ano de 1994 ou 1995 eu não sei ao certo, nunca ouvia direito o que ele falava – o que as moças vão querer?
            -Bom dia, tem maça para bolo? – ele me deu bom dia, mas já eram quatro da tarde, o que só comprova a teoria de que ele não está mais apto para o trabalho - Não, acabou tudo, um homem grande comprou tudo hoje de manha - ele olhou para os dois lados todo cauteloso – Ele ia fazer uma cerimônia para comemorar a raça Aliem, amanha!
            -Ok – disse Lucy, ela me puxou pelo braço até o lado de fora da mercearia.
            -Cada dia que passa ele me dá mais medo.
            -Só você Emma para acreditar nessas bobagens.
            -Eu não acredito, só que ele me do medo - disse subindo na bicicleta.
            -Vamos ao supermercado, prefiro pedalar mais a ter que ouvir bobagens – disse Lucy disparando na minha frente.
           
            Chegamos ao super mercado, era ligeiramente o maior da região, e atraía muitas pessoas a nossa pequena cidade, o segundo motivo de pessoas se despencarem de milhares de quilômetros para cá, o primeiro era uma boate com fama nacional, mas apenas ricos tem condições de freqüentá-la.
            Ele possuía um enorme estacionamento ao ar livre, e que por estarmos em começo de fevereiro, fim de férias estava quase vazio.
            -Vem, vamos entrar logo – disse Lucy olhando para o céu.
            -É melhor comprarmos capa de chuva lá dentro, parece que vai cair um temporal – disse correndo para a entrada acompanhada por Lucy.
            Fazia poucos segundos que havíamos entrado no supermercado e um temporal desabava na rua, me sentia feliz por estar em um lugar fechado. O relógio marcava seis horas, havíamos pedalado mais do que eu pensava. Eu e Lucy fomos procurar a seção de confeiteiros, viramos um dez corredores até acharmos a massa para bolo.
            -Quantos pacotes? –perguntou Lucy dando graças por termos achado a seção.
            -Uns três eu acho.
            -Vamos levar cinco, por segurança – ela riu e jogou os pacotes na cesta.
            -Vamos para o caixa – peguei a cesta e levei até o caixa, pagamos e paramos na entrada do supermercado.
            -E agora, vamos à chuva?
            -Mas Lucy, se eu pegar uma gripe, amanha é meu aniversário.
            -Não podemos ficar aqui até a chuva passar.
            -Quem disse? – fomos até a porta dos fundos que dava no estacionamento, lá havia uma tapagem e bancos, me sentei lá, e esperei que Lucy fizesse o mesmo. 
            Nem me lembro a quanto tempo estávamos lá, a horas com toda certeza. Lucy mexia no celular e eu batia os pés super irritada.
            -Droga de chuva- desabafei.
            -É – suspirou Lucy.
            -Emma tem certeza que não quer pegar chuva?
            -Se conseguimos chegar em casa, nossa bicicleta vai atolar.
-Droga.
-Na sua casa, mas até a minha dá para chegar.
-Vai me deixar sozinha aqui? – olhei para Lucy surpresa.
-Tenho que comprar seu presente, daqui à uma hora as lojas fecham e você fica sem pressente.
-Tudo bem, vamos para sua casa – disse me levantando.
-Não, eu vou você fica – ela me sentou no banco e se levantou.
-Sozinha?
-Você não vai ver o que eu vou te dar, nem pensar.
Não consegui acreditar que Lucy me largou ali e foi para casa, queria pular no pescoço dela e torcer, mas ela tinha a boa intenção de comprar um presente para mim então a deixei ir. Já eram nove da noite, chovia muito, fiquei com medo de ter que dormir lá fora, e para piorar já era dez horas da noite.
-Aqui é Emma Fox, e daqui a duas horas e faço oficialmente dezesseis anos e estou presa em um estacionamento idiota, por causa de uma chuva idiota – eu estava deitada no banco com a cabeça pendurada de cabeça para baixo, se estivesse fazendo isso em casa minha mãe diria: sai daí se não vai cair e quebrar o pescoço. Eu estava gravando um vídeo com o meu celular, eu sei, que idiota.
-Se a chuva não passar daqui a meia hora, eu assalto o supermercado porque eu preciso comer e ir ao banheiro, será que a policia vai me entender? – liguei para o celular do meu pai mela milésima vez, e ele não atendeu, de novo - E quando a policia achar esse vídeo no meu celular ao lado do meu corpo todo ensangüentado, quer que saiba papai a culpa foi sua, por não ter atendido o celular e assim estragado meu aniversario, agora quero ver se você vai dormir com toda essa culpa!
-Eu não sei se eu acho graça ou se eu me preocupo – só pude ver as pernas da pessoa parada bem a minha frente, rapidamente me sentei direito no banco, afinal essa não era uma posição ideal para falar com alguém.
-Oi – disse envergonhada por alguém ter visto falando bobagens.
-O que faz aqui? – perguntou um menino alto de cabelos castanhos claros, ele era branco e forte, estava com um capuz e ainda sim bem molhado.
-Vim comprar massa de bolo – bati na sacola indicando a massa.
-Veio comprar massa de bolo a meia noite e quatro minutos? – perguntou olhando no relógio.
-Quase isso – disse afastando uma mecha do meu cabelo que caíra em meus olhos.
-Quer entrar? Lá você pode comer e usar o banheiro, não é isso que quer? – disse ele rindo, podia sentir meu rosto corar por um estranho ter ouvido aquilo.
-Como assim entrar?
-Com a chave, qual seria o outro jeito – ele pegou um molho de chaves do casaco, seguiu até a entrada da frente, abriu a porta entrou e acendeu a luz – Não vai entrar?
-Posso te fazer uma pergunta? – disse entrando no supermercado.
-Perguntar não ofende, então fique a vontade – disse seguindo pelo corredor.
-Quem é você?  - ele se virou e veio em minha direção.
-Adan Price, meu pai é dono desse lugar.
-Isso explica a chave – ele me pareceu um tanto sombrio nesse momento.
-Achou o que, que eu fosse um delinqüente? – ele continuou a andar - Aprende uma coisa Emma – gritou ele já um pouco longe – Ninguém rouba pela porta da frente.
Fui até o banheiro e joguei um pouco de água no rosto, eu estava destruída, meu cabelo estava bagunçado, mas não me importava nada disso, a única coisa que despertaria meu interesse era ir para casa.                             Saí do banheiro, fui até a seção de “porcarias” e peguei um saco de batatinha e um vidro de ketchup, me sentei no chão e comecei abrindo o saco de batatas.
-Não abre esse – disse Adam se sentando no chão também.
-Porque não? – perguntei fria.
-Essa marca é bem melhor – ele apresentou na mesma hora, outro saco de batatinhas, um bem maior e mais caro.
-Tudo bem - peguei o saco da mão dele e abri, despejei quase o vidro de ketchup inteiro na batata e sacudi.
-Como alguém pode comer isso? – ele pegou uma caixa de chocolates refinados na outra prateleira e abriu para comer.
-O que, os chocolates ou a batata? – perguntei no intervalo de uma batatinha e outra.
-A batata é claro – ele se sentou.
-É bom, você que tem mau gosto. Esse chocolate nem gosto de chocolate tem, é licor puro – ele riu, mas ainda continuava com a expressão vazia, o que me deixou nervosa.
-O que uma garota faz meia noite na porta de um super mercado?
-O que um filhinho de papai faz de madrugada em um supermercado? –revidei.
-Verificando, é um “trabalhinho” que meu pai me deu. Todos os dias tenho que ver se está tudo certo por aqui.
-Comprando massa para um super bolo – disse comendo outra batatinha.
-O que? – perguntou ele confuso.
-Isso que eu vim fazer aqui, comprar massa para um super bolo. Mas aí choveu, minha amiga foi embora e eu fiquei.
-Sua amiga foi embora? – perguntou rindo.
-Não é engraçado, foi por uma boa causa.
-Que boa causa – ele não parou de rir de mim.
-Ela foi me comprar um presente.
-Presente de aniversário?
-Sim – olhei confusa para ele, como ele sabia – Como sabe?
            -Você disse lá fora, com o seu celular. O que foi meio estranho.
            -A... – disse sem graça. Ele me chamou de estranha, foi isso?
            -Os seus pais não vão ficar preocupados?
            -Não, eles estão muito ocupados, só vão dar faltas umas três da tarde.
            -Pais – ele riu, parecia entender. Mas eu não queria ficar a noite inteira conversando com um garoto rico e mimado, só queria ir para casa, dormir na minha cama, peguei meu celular e disquei o numero do meu pai de novo, dessa vez cai na caixa postal.
            -Droga.
            -Onde mora? – perguntou devorando o ultimo bombom de licor.
            -Parte norte, já ouviu falar no LAR?
            -É onde ajuda as pessoas necessitadas? – ele perguntou ainda com sua expressão vazia. Fiz que sim com a cabeça.
            -Naquela casa, mas no andar de cima. É o nosso “negócio” de família.
            -É muito longe – disse se levantando.
            -Eu vim de bike.
            -Vem – disse se levantando e batendo na calça para se livrar da poeira – Eu te do uma carona, to de carro.
           

            Era contra minha política entrar em carros com pessoas estranhas, e ainda mais sozinha de madrugada, mas eu não ia desperdiçar a minha única chance de voltar para casa seca e segura ainda hoje. Adam colocou a minha velha bicicleta na caminhonete, que a propósito não era um carro e sim o carro.


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário