-Eu não
acredito em você! – gritei, vi o rosto de Lucy mudar de cor.
-Não acredita agora, mas vai
acreditar. Ou achou mesmo que desde que você fez dezesseis anos sua vida mudou
tanto assim – ela apertou ainda mais as correntes que me atavam a cadeira – Eu
paguei para que tudo isso acontecesse Emma, paguei todos e tudo. Lembra a uns
meses quando fomos comprar massa para seu bolo de adversário?Eu paguei aquele
velho para sumir com todo o estoque!Eu te levei ao supermercado, te larguei
lá.Paguei ao Adam para te conhecer e fazer você se apaixonar por ele, paguei a
Priscila para se fazer de amiguinha e te trazer até a mim, Paguei o Roy pra te
levar a praia e tentar te matar, mas ele foi u m inútil, então tive que acabar
com ele.Paguei a Sam para te levar para
aquele maldito hotel, enquanto eu dava um sumiço na sua família, paguei ao Jake
para bagunçar sua cabeça.Nada é real, você não é real, nada que você viveu é
real e não tem a menor importância.Todas as pessoas que você julgou ser
importante não são, todos que você achou que gostavam de você, não gostam, e
quem você achou que te amasse, não te ama!Todos armaram pra você, faziam parte
de um plano, meu plano.
-Então esse tempo todo, tudo você
planejou para...
-Te trazer até aqui e te torturar
com a verdade, mas o mais importante, te matar.
-E como pretende fazer isso? – não
tinha mais forças para discutir com Lucy, estava esgotada e angustiada, toda a
minha vida não me pertencia mais, nunca pertenceu.
-Emma – ela finalmente parou, mas
estava atrás de mim – Eu fingi ser sua amiga por tanto tempo, sei tudo sobre você.
Todos seus segredos, fraquezas. Já comecei a te matar a muito tempo, não vê? Matei
a pessoa que você achava que gostava, fiz sua família duvidar de você, joguei a
cidade que você cresceu contra você, te separei dos seus amigos, da sua escola,
te deixei sozinha e fiz com que todos
fizessem o mesmo, agora vou usar um medo mais físico do que psicológico, espero
que não se importe – ela riu, como se eu tivesse alguma escolha.
Ela bateu o pé, ao ver que eu já não
estava sofrendo como antes.
-Venho te buscar daqui a pouco,
vamos andar de barco.
Meu coração
parou ao ouvir a palavra barco, Lucy sempre soube do meu terror com a água,
barcos ou qualquer coisa onde eu pudesse ficar submersa. Me bati na cadeira
quando Lucy deixou a sala, sabia que precisava fugir.
Não sei quanto tempo passou, mas já
estava escuro.Um encapuzado entrou na sala, tive medo de ser Lucy, agora a
temia mais que a morte.Sabia que ela não simplesmente me mataria, mas como me
faria sofrer bastante antes disso.
O encapuzado se aproximou, estava
bem perto, se abaixou de frente a minha cadeira, então minha respiração
oscilou.
-Emma ... – aquela voz, aquela voz. Adam!
-Adam ? – falei sem expressar minha
melancolia na voz.
-Precisa saber que...eu nunca fui a
favor disso – ele tirou o capuz, era realmente ele, seus olhos brilhavam, mais
para mim, não passavam de um lembrança.Uma lembrança de ódio e traição.
-Isso não muda o que fez – sussurrei.Minha
garganta estava tão seca, meus lábios cortados, sentia o gosto de sangue descer
a garganta.
-Nada muda.Fiz uma escolha errada, e
não posso concertar isso.Mas posso ... – ele tornou o tom de voz mais baixo –
Tentar te ajuda.Preciso que confie em mim.
Não podia
evitar não olhar em seus olhos, sempre me sentia segura com Adam.Desde sempre
eu queria estar com ele, mesmo que fosse para fazer nada, mas agora eu só conseguia
sentir medo e insegurança.
-Nunca mais...confiarei em você de
novo, não da mesma forma que confiava.E nada que você faça ou diga pode mudar
isso, nada que eu sinta, pode mudar isso.
-Não estou pedindo para que mude.É
que seu eu não te ajudar, não te salvar, nunca vou me perdoar.
-Vai se perdoar por ter mentido para
mim esse tempo todo, por me enganar, e por me fazer eu me apaixonar por alguém que
estava me levando para a morte?
-Nunca.Mas posso te ajudar agora, só
preciso que faço o que te preço.
Fiz que sim com a cabeça, mais ainda
estava insegura.Como saberia que aquilo também não era parte de um plano da
Lucy, para me ofender ainda mais?
-Não estará sozinha, não deixarei
que se afogue.Não lute, ela vai achar
que se afogou e tudo ficará bem.
Balancei a cabeça mais uma vez.Ele
se levantou, eu estava tremendo, não podia ter certeza se ele conseguiria me
salvar, ou se tudo aquilo não passava de um sonho, como em muitos filmes
bizarros.Ele beijou minha testa, o que me fez amolecer, e me odiar por ainda
gostar dele.
Adam caminhou até o fim da sala, até
para perto da porta.
-Emma...- ele sussurrou, sabia que
não podia fiar mais ali –Gostaria muito de ter te conhecido antes disso
tudo.Não sabe quanto e gostaria – seu sorriso era triste, e desapareceu logo.
Estava incomodado com aquelas correntes,
o balanço do mar me enjoava. Estávamos muito longe do pear, como Adam poderia
me salvar agora?Fiquei com medo, dois encapuzados estavam no barco comigo,
nenhum deles tirou o capuz.Lucy havia ficado no pear, assistindo o barco
desaparecer e minha morte manchar o lago.
-Estamos longe o suficiente – falou uma
voz, pude reconhecer, era Sam.
-Então a jogamos aqui? – perguntou outra
voz, tinha certeza que era Jane.
-Devíamos ir mais longe, mais olha o
céu.Esta chuviscando já, não quero arriscar a ser sepultada também.
Continuei a fingir que estava
adormecida, tinha medo que me machucassem ainda mais, abri o olho bem devagar,
enquanto elas mexiam em algo no barco. Eu vestia um longo vestido branco,
perfeito agora eu seria uma “noiva” afogada.Estava tudo pronto, tentei ficar o
mais imóvel o possível, mas ainda temia, temia muito.
-Me ajude a jogá-la – disse Sam
segurando meus braços.
Tentei não
gritar de nervoso.Mas então a situação piorou.
-Espera -Jane se aproximou, julguei pelos passos –
Vou me divertir primeiro.
-o que está dizendo?
Pude ouvir algo ranger, como uma
faca sendo amolada. Estava com medo.
-Ela estragou meu relacionamento com
meu namorado. Mereço me divertir um pouco com ela, não acha?
Deixei uma lagrima escorrer, ela
realmente queria me machucar.Por mais que tentei, não pude impedir aquela
lagrima de escorrer lentamente pelo meu rosto.
-Veja só – disse Jane se aproximando
–Acho que alguém pode nos ouvir.
Abri os olhos, eles estavam bem molhados.
As duas abaixaram os capuzes. Pareciam maníacas com aquelas luzes refletidas em
seus rostos, eu um dia eu queria ser como elas, como pude querer isso?
-Jane – choraminguei – Não sabia de
nada –não pude evitar chorar mais um pouco.
-Patética! – ela me deu um tapa no
rosto.
Gemi de
dor.Senti meu rosto queimar, e o corte na minha boca arder.
Ela puxou aquilo que avia feito
barulho antes, e tentou me acertar.Me esquivei, mas e ela quase acertou Sam.
-Cuidado com isso – gritou ela,
protegendo o rosto –Podia me matar.
-Não
fuja, sua... –ela me golpeou novamente.Me esquivei de novo e mais uma vez.
Estava
muito difícil me proteger estando acorrentada, com um dos golpes ela cortou
minha bochecha.Senti a faca queimar em contato com meu rosto, pude sentir o
sangue escorrer e cair sobre minha boca e pingar no vestido branco.
-Eu vou te deixar irreconhecível –
ela me empurrou e partiu para cima de
mim.Pude sentir a faca me acertar mais umas vezes, ela estava
descontrolada, e a dor era tão grande que tive medo de como meu roto estava agora.A
empurrei para trás, a faca acertou a perna de Sam, que caiu na água.
Me levantei e corri para o outro
lado do barco.Agradeci por Lucy ser rica e ter um barco grande, teria morrido a
muito tempo se estivéssemos em um bote, ou algo do tipo.
Jane correu atrás de mim.Eu estava
encurralada.Estávamos na ponta do barco, queria correr, mas as correntes
agarraram em um pino de ferro, não pude me mexer.
-Fim da linha, piranha! – ela veio
correndo com a faca na mão.Mas alguém a segurou.
-Adam! – gritei.
-Corre Emma, corre!
-Não posso estou presa! – mexi os
braços com mais força, mas as correntes não saiam, só cortavam ainda mais meus
pulsos.
-Me solta Adam!Que droga – gritou Jane
– Vai mesmo proteger essa pirralha retardada, ao invés de ficar do meu
lado?Quem sempre te apoiou quem esteve do seu lado quando sua mãe morreu, quem
tem ama?
-Não me peça para escolher, ele a
empurrou e ela bateu com força no barra de ferro de proteção do barco.
-Está tudo bem? -ele perguntou abrindo os cadeados.
Estava recuperando o fôlego, mas o
barco acelerou.Fui enviada para fora dele, sabia quer era obra de Jane.Mas eu
já estava livre as correntes, podia nadar.
Passei muito tempo apara chegar de
volta a margem do rio, não voltei pelo pear tive medo que Lucy estivesse
lá.Chegando em terra, deitei precisava respirar,o vestido enorme me atrapalhara
muito a nadar, era muito pesado, e estava muito manchado de sangue.Mas porque
eu estava pensando nisso tudo afinal?Eu só queria deitar e descansar minhas
pernas.
Fechei os
olhos, precisava me desligar de tudo.Ouvi um galho estalar, abri os olhos pude
ver a figura de Lucy me encarando.Ela se jogou em cima de mim, começou a me
estapear, não pude acreditar que ela estava ali.
-Como não morreu?Porque não está
morta – ela me socava, estava quase inconsciente, não tinha noção do meu cansaço
e nem do que faria, não podia me mover, apenas sentir a dor causada por seus
socos em meu rosto.
Der repente ela parou, mas só graças
a faca que eu tinha carregado comigo ,a mesma que Jane tentou usar para
remodelar meu rosto, ela estava cravada no peito de Lucy, me senti horrível por
isso, mas era a única forma de eu continuar viva, mas não pude evitar chorar.Seu
peso caiu sobre mim, a faca entrou ainda mais sobre seu corpo, e marcou o meu também,
a empurrei para o lado.Ela estava morta!
Me levantei ainda tonta, tropecei
pelo chão lamacento, o sol já estava nascendo.O meu pesadelo tinha acabado
finalmente.Pude ver luzes e um barulho, a policia julguei.Com certeza eram
eles, estava tão tonta, tão fraca, a luz do sol foi a ultima coisa que vi antes
de apagar.
Capitulo Vinte.
Acordei dois
dias depois em uma cama de hospital, minha cabeça doía, minhas pernas estavam
cortadas e inchadas, mas em fim, estava melhor do que estive o ano inteiro,
esta em paz por dentro.
-Vejo que alguém
acordou – Bem estava sentado em uma cadeira do lado da minha cama.
-Bem! – o abracei,
precisava dele mais do que de qualquer um agora – Achei que nunca mais te
veria.
-Nem eu –
ele sorriu – Mas estou aqui, e agora está tudo bem! – seu sorriso aumentou.
-Eles não te
machucaram muito certo? – o examinei, ele parecia uma pouco abatido.
-Não tanto
quanto você, a não ser pelo braço – ele levantou a manga da camisa, revelando o
gesso.
-Sinto muito
– falei, então ele sorriu, sabia que ele estava bem.
-Vamos para
casa finalmente, vamos para casa e tudo vai ficar bem – ele me abraçou de novo.
-Sim, tudo
vai ficar bem.
-Sei que vai
ser só nós mais, podemos viver assim, não podemos? – seus olhos radiavam.
-Claro que
sim, tudo vai começar a melhorar. Nada vai atrapalhar nossa família de novo
Bem, nada.
Ele passou a
mão no meu rosto, pude sentir as minhas cicatrizes, eram horríveis eu sei. Mas
nada diminuiria a alegria daquele momento. A vida inteira eu fui a garota
boazinha, nunca fiz nada de errado, até hoje.Eu havia matado Lucy, mas a
policia sabia que foi pura defesa, só me restava saber se o juiz concordaria
com isso, ainda mais depois do caso Roy.
*
Estávamos colocando as coisas no porta malas do carro, minha
mala estava bem leve.Não queria nada daquele lugar,a casa da vovó tinha um
clima completamente diferente e minha roupas não serviriam de muita ajuda,
fiquei feliz em saber que poderia deixar todas as lembranças para trás, eu Bem tínhamos
essa chance de recomeçar e não a desperdiçaria de novo.Pena eu não ter um
terceiro nome, seria bem mais divertido recomeçar desse jeito.
Estava fechando o porta malas quando vi Adam no fim da rua.Ele
acenou para mim, fui até ele.
-Fico feliz que esteja bem, tirando o rosto todo... – ele não
continuou – Desculpe.
-Tudo bem, eu já me vi no espelho, espero que não fique assim
por muito tempo.
-Então está indo embora? – seus olhos eram desapontadoramente
adoráveis, sua camiseta branca esta sob medida.
Fiz que sim com a cabeça.
-E quando volta? – ele deu um meio sorriso.
-Não volto – não pude olhar em seus olhos.
-Então isso é uma despedida?
Cerrei os lábios, fiz que sim com a cabeça novamente.
-Quer ir a algum lugar, para sei lá...uma despedida? – ele estava
desapontado.
-Sinto muito – apertei ainda mais meus lábios, até doer os
ferimentos, que me fez acordar para a situação – Não posso, estamos Indo agora.
-E para onde vai?
-O juiz deu a guarda para a Vó, eu e Bem vamos morar com ela.
Mas tenho que me manter fora de encrenca por um tempo – sorri pensando na
situação.
Ele apenas me encarou, sabia que estava triste.Queria tanto detestá-lo
por tudo, mas não conseguia.
-Mas voltaremos nas férias, não vamos
vender a casa – ele sorriu.
-Então vou esperar, sempre – ele deu
um sorriso desapontado – Eu te amo Emma.
Meu sorriso se perdeu com essas
palavras, eu não podia perdoá-lo, não depois de tudo, não podia!
-Adam , por favor... –não podia
falar sobre isso com ele, não mais.
-Não estou pedindo pra dizer nada,
nem para sentir o mesmo. Só me deixe dizer o que tenho pra dizer antes que seja
tarde de mais.
Estava nervosa, fiz que sim com a cabeça.
Os olhos dele estavam úmidos, sorri um pouco ao perceber que ele evitava chorar
para parecer forte para mim.
-Eu te amo. E mentiria se dissesse
que me arrependo de tudo. Claro que eu queria ter te conhecido em outra
oportunidade, e não ter ajudado a te machucar mais... Se essa fosse a única maneira
de te conhecer, ou de ter você em minha vida. A faria de novo, a faria por você.
Não quero apagar o que fiz, sei que foi horrível, e não quero que me perdoe por
isso, mas não me odeie por te amar.
-Não – sei que sorri, e também que a
essa altura estava chorando.
A buzina do
carro soou, era hora de ir.
-Preciso de um tempo, para pensar no
que vai ser daqui para frente – falei, em meio a uma expressão desapontada comigo
mesma.
-Claro que precisa – ele estava apreensivo
com tudo, mas sei que era só fachada.
Estiquei minha mão, como se esperasse
um acordo com ele, o que eu estava fazendo?
-Foi um prazer Adam – ele apertou
minha mão de volta.Deu um sorriso rápido, mas sabia que eu não correspondi a suas
expectativas.
Me virei, mas ainda não estava pronta
para ir.Andei um pouco e olhei para trás, ele ia para caminho oposto.
-Adam! – gritei.Ele se virou rápido.
Corri até ele.
-Talvez eu queira falar com você mais
tarde – entreguei um numero de telefone para ele.Ele riu, ao ver que eu colocara
um papel em seu bolso da calça.
-Talvez eu ligue, então – ele riu.
-Talvez eu espere você ligar – ri de
volta.
-Vamos ficar aqui falando talvez o
dia inteiro? – seu sorriso era lindo, como sempre foi.Mas agora é verdadeiro,
livre, sem mentiras.
-Talvez – ergui minhas sobrancelhas.
-Porque esta enrolando? - ele indicou o carro com a cabeça.
-Talvez eu não queira ir – dei um
sorriso torto.Mas isso não dependia de mim.E alem do mais sair de lá, me faria
bem.Pelo menos por enquanto.
Ele sorriu e beijou minha testa, o abracei.
Não devia ter feito isso mais não poderia ir sem antes deixar claro que não
queria que ele sumisse da minha vida, não importa o quanto errado tudo aquilo
fosse.
-Adeus James – brinquei. Me afastei,
e ele foi soltando minha mão aos poucos,até já não estar ao seu alcance.
-Adeus garota da massa de bolo – ele
sorriu mais uma vez.
Contemplei
minha casa pela ultima vez durante aquele mês, fiquei feliz de sair daquela loucura.
A minha “aventura” havia chegado ao fim, eu e Bem estávamos seguros finalmente,
e Adam correspondia o que eu sentia por ele, não sei se ele vai me esperar como
disse, mas não quero me preocupar com nada por enquanto, só quero chegar na
minha nova casa, com minha família, ou o que restou dela e poder dormir um
noite sem medo de acordar e não ter ninguém .
Eu não estava pronta para a nova
vida que teria nova escola, novos costumes novos amigos, nova casa e nova família.
Mas estava pronta para esquecer o ano mais triste e sofrido da minha vida, mas
é claro que isso só será possível quando as cicatrizes do meu rosto forem
embora, pode demorar. Mas estas serão bem mais fáceis de lidar do que as do meu
coração. Essas que fiaram para sempre.
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