Historia parte 19
Quando acordei fui direto para o espelho, então reparei que
minhas mechas brancas já tinham sumido completamente das pontas do meu cabelo,
nem havia reparado até hoje de manha.Eu não tinha roupas então Pri me emprestou
uma.Não era exatamente uma roupa legal, um moletom laranja enorme com uma saia branca
de pano rodainha, o moletom cobria metade da saia. Eu
não falei nada da roupa, até porque sabia que Pri não tinha feito por
querer.Ela era bem mais alta que eu, e tinha muito menos corpo, então duas
roupas não cabiam em mim. Meu
telefone tocou.Corri para atende-lo, nem sei ao certo.Não me lembro de ter alguém
para receber ligações.
-Alo? – mas o outro lado da linha estava mudo – Alo?Quem é? –
o telefone continuou mudo – Se não vai dizer quem é, é melhor me deixar em paz!
– desliguei o telefone.
-Isso não é bom – disse Pri.Meu telefone tocou de novo.
-Alo? – pude ouvir barulhos do outro lado da linha – Alo?
-Emma –disse uma voz choramingando.
-Bem?Bem? – gritei de alegria. Ele estava vivo – Onde você
está?
-Emma, eu não posso falar muito. Se ela descobrir, eu estou
morto Emma.
-Ela quem Bem?Bem? – a linha ficou turva, mais podia ouvir a respiração
dele, do outro lado.
-Emma – pude ouvir de novo – É uma armadilha, não caia. Não
se importe comigo, o que eles querem é você, não caia Emma... – e o sinal
parou.
Comecei a chorar por falar com meu irmão de novo. Não sabia
se ficava feliz ou triste, mas eu queria muito poder ver meu irmão de novo.
-Esta tudo bem?
-Sim – disse limpando as lagrimas – Ele está vivo.
-Disse algo importante?
-Disse que era ELA, uma mulher Pri.
-Tem muitas mulheres no conselho.
-Milla.
-Que Milla?
-Camilla Tonkis do segundo ano. Ela me atacou no shopping uma
vez.
-Pode ser ela - disse Pri
se sentando na cama.
-O que devo fazer.
-Achar seu irmão. Achar o culpado para as mortes, e provar
sua inocência.
-Só isso – brinquei – E ainda são oito da manha.
-Temos que rastrear o sinal – Pri pegou meu celular e saiu
andando pela casa. Fui atrás dela.
-Como vamos fazer isso?
-Meu pai é policial Emma, aposentado mais é. Pode ser uma
carta bem útil para provar sua inocência – sei que sorri quando ela disse isso.
Fomos até o pai de Pri, que se trancou no escritório por uma
bom tempo.Fomos comer enquanto isso.Não sei quando percebi, mas quando estou
com alguém meu apetite é normal, mas quando estou sozinha posso ficar até dias
sem comer.
-Consegui! – gritou o pai de Priscila. Corremos ao seu
encontro na mesma hora.
-Onde é, onde é? – perguntei correndo.
-Não é muito longe.
-Vamos! – disse puxando Priscila pelo braço.
-Não, Emma – ela me freio quase na porta de sua casa –
Precisamos de calma, ajuda da policia, muitas coisas. Não podemos só sair
correndo e pronto.
-Não posso esperar Pri – me sentei no chão, a emoção de estar
com minha família de novo me invadiu, chorei feito uma criança, mas não podia
evitar.
-Emma – disse Pri em um tom bem baixo – Tudo está se
resolvendo. Vai dar a volta por cima, ninguém vai mais pisar em você – ela me
ajudou a me levantar.
-Precisamos acabar com isso – falei
já de PE – Essa noite. Você está comigo?
-Claro – fomos para o quarto.
Não sei o
que Priscila fez enquanto o tempo passava, mas só sei que sentei em frente a
janela e fiquei esperando.Pareceu uma tortura, o tempo não passava.
Pela noite eu estava mais do que preparada, havia chegado a
hora. Eu ia por um fim naquela palhaçada, não importava do que me acusassem, e
quem estivesse inteiriçado em matar minha família, agora reduzida ao Bem, ele
não iria pagar por mim, e muito menos por esse tal conselho.
Fui para o banheiro trocar de roupa, eu não havia muitas
coisas para vestir, desde que estava hospedada na casa da Pri.Ela havia me
entregado um jeans e um moletom, o que caiu perfeitamente, já que o clima
estava frio, e o vento rigoroso.Usar aquele casaco grosseiro cor roxo, era como
abraçar alguém de quem sente falta. Voltei ao quarto, me decepcionei
profundamente ao ver que Priscila dormia. Ela devia estar muito cansada, mas
não poderia esperar mais um dia, resolvi tomar as rédeas da minha vida, peguei
o endereço, na cabeceira da cama, coloquei um tênis confortável, e peguei a
lanterna que Pri já havia separado pela tarde, abri a porta e segui em frente.
O ar gelado me atingiu em cheio, nem mesmo o blusão e o jeans
pode conter o frio, coloquei o capuz que aqueceu a minha nuca. A rua estava
escura, acendi a lanterna sobre o papel, era um pouco longe, na verdade eu não
sabia bem onde era, mas o endereço não ficava longe de onde eu morava
antigamente.
Peguei um ônibus, gastei cerca de uma hora para chegar ao meu
antigo bairro. Evitei passar pela rua da minha casa, mas era impossível. Ao
passar em frente à casa, lembranças vieram a minha cabeça, tantos momentos bons
que eu julguei ruins e sem graça, agora me faziam falta, me atirei sobre a
calçada, abracei minhas pernas, como fazemos quando vamos chorar.Aquele
sentimento de perda era tão ruim, sentia tanta falta do papai,da mamãe, do meu
irmão, da Lucy, do Roy, do Adam.
Poderia ficar ali para sempre, mas a sensação de estar
chegando perto me consumiu. O meu bairro nunca foi agradável, ainda mais pela
noite. O fato de não ter mais nenhuma casa por toda a região me fez gelar a
nuca, e se eu precisasse de ajuda?Talvez fosse tolice minha não esperar por
Priscila, mas francamente o que ela poderia fazer que eu não pudesse?
-Não está muito longe – me peguei falando sozinha, aquilo era
ridículo.Andei por um bom tempo, diria que uma meia hora, nunca havia ido tão
depois da minha casa, na verdade nunca achei que houvesse algo lá alem de mato
e um enorme lago ( Bem me falou sobre o lago uma vez).
Depois de andar na mata por um tempo, reparei na loucura que
estava me metendo, eu poderia ser picada por cobras, ou devorada por animais
selvagens. Mas afinal que tolice estou dizendo?Era só um matagal, no Maximo uma
reserva. Nada que pudesse realmente me machucar viria daquele lugar.
Avistei um enorme bangalô, parecia mais um celeiro
abandonado, e um enorme píer que parava quase na metade do rio, devia ser muito
fundo. Liguei a lanterna e comecei a realmente me preocupar por onde pisava,
não queria cair em nenhuma armadilha, aquilo poderia custar minha vida.
Abri a porta do celeiro, fui andando, liguei a lanterna, mas
ouvi umas vozes e percebi que não era seguro. Apaguei a lanterna, a penumbra se
estendeu,um lance de escadas se seguia, subi cuidadosamente, sei que o piso
range em um dos degraus, motivo pelo qual meu coração se acelerou como nunca
havia se acelerado antes. Devo admitir que estou apavorada, medo não era o
suficiente, temia pela minha vida e por tudo mais que me importava.Fui o mais
cuidadosa o possível.
Pessoas de capas rondavam a sala, havia um pequeno grupo. Não
podia ver seus rostos, mas francamente, não sei se queria ver.
-Em algumas horas tudo estará terminado. Dois anos de esforço
e suor serão recompensados – a voz era feminina, mas era rouca. Todos obedeciam
à voz como se fosse o líder. E devia ser isso mesmo.
-Que horas vamos iniciar a finalização? – perguntou mais um
dos encapuzados. Esse era mais auto e a voz não era rouca como a do primeiro.
-Sabe que já está perto. Fiquem atentos, o sinal verde virá.
Do que eles falavam afinal, cheguei até a desconfiar que
talvez eu tenha errado o endereço. Um celular tocou, e meu coração deparou mais
uma vez, e pensar que poderia ter sido o meu. Minha respiração era ofegante e
oscilava, tive medo que pudessem me ouvir.
-Como assim? – perguntou uma voz bem aguda. Sei que era uma
mulher. Era menor de tamanho e sua voz um tanto aguda, me lembrava alguém, mas
não tive cabeça para comparações naquele momento – Sinal vermelho. Temos um
intruso.
Quando ela disse isso, senti que todos os olhares se voltaram
para a porta. Pude perceber que fui descoberta, queria muito sair correndo, mas
minhas pernas não se mexeram, talvez eu tenha chorado, por ser tão boba a ponto
de não fugir, mas agora já é tarde de mais.
-Entre. Você é minha convidada de honra – disse o encapuzado
da voz rouca –Sente-se.
Me empurraram para um cadeira, era macia e parecia da
realeza, mas eu não estava nem aí para a
cadeira, só pensava em como sairia daquele local.
-É esperta. Francamente, achei que demoraria mais. Mas vir
sozinha foi muito corajoso de sua parte. Conta muitos pontos no relatório – ele
falava como se falasse de negócios, todos mentiam as cabeças cabisbaixas, e
permaneciam com o capuz negro.
-Onde está meu irmão? – consegui dizer, minha voz era
ríspida, não poderia demonstrar fraqueza.
-Cale a boca – disse me dando um tapa com muita força. Pude
sentir seus anéis baterem com tanta força contra minha bochecha que lagrimas
saíram imediatamente do meu rosto.
-Não é necessário! – se pronunciou novamente o alto
encapuzado.
-Não é necessário?Tem certeza do que diz? – o líder se
aproximou, apesar de ser bem menor, era óbvio quem mandava por ali. Eles se
encaram.
-Não faz parte do plano, e alem do mais, não queremos nossa
anfitriã ferida, pelo menos não antes do sacrifício.
-Boa resposta – disse ele voltando para minha direção.Sua mão
tocou meu rosto o que me fez tremer, sua mãos era áspera e rigidamente gelada,
sei que eu estava gélida, me sentia uma pouco morta para dizer a verdade.
-Sacrifício? – gaguejei.
-Sim, precisamos de um sacrifício, e dessa vez você foi a
escolhida.
-Por quê?O que eu fiz?Nem te conheço, como pode fazer isso –
minha voz oscilou, sabia que eu já estava chorando, mas na minha situação,
chorar era basicamente o que eu poderia fazer.
-Tem certeza que não me conhece?Emma – aquilo fez meu coração
gelar. Como alguém conhecido poderia estar debaixo daquele capuz.
Ouvi uma movimentação, todos deixaram a sala, pude ouvir os
passos, deviam estar saindo da casa, não demorou muito até o silêncio profundo
cair sobre toda a região. Logo a porta foi aberta e Priscila entrou. Senti um
enorme alivio por ela ter me achado. Eu estava sozinha na sala, aquela era a
oportunidade perfeita para fugirmos.
-Pri! – meu coração acelerou – Como chegou aqui?Desculpe por
não ter te esperado eu devia ter te esperado.
Ela se aproximou de mim, tocou nas amarras que me prendiam a
cadeira. Ela as tocou, mas não as removeu, olhei para seu rosto, estava um
tanto sombrio.
-Devia mesmo ter me esperado, Emma.
-Eu sei me desculpe, mas me tire daqui.
-Eu não posso, sinto muito. Acho que alguém vai ficar aí por
mais um tempo. Mas não se preocupe, a lua já esta no céu a bastante tempo, logo
o sacrifício será feito, e você não vai sofrer mais.
-Eu não entendo, do que você está falando?
Ela riu, sua risada era demoníaca. Ela pegou uma capa que
estava pendurada em seu braço, e a fechou, ela ergueu o capuz e entendi do que
se tratava.
-Armou pra mim – disse um tanto raivosa.
-Não Emma, nós armamos para você – a voz rouca mais uma vez
se interceptou, Pri de um passo para trás.O líder chegou bem perto de mim,
removeu o capuz na minha frente.
continua....
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